A evolução e os impactos da Inteligência Artificial na sociedade e na medicina

EDIÇÃO 29

A Inteligência Artificial (IA) é uma criação humana fascinante, surgindo como ramo da ciência dedicado a desenvolver sistemas computacionais capazes de reproduzir o raciocínio, aprendizado e tomada de decisões semelhantes aos da mente humana.

Diferente de programas convencionais, a lA aprende com dados, ajusta-se e melhora suas respostas com o tempo, independentemente da intervenção humana. Isso faz com que o próprio uso cumulativo da lA seja fundamental para o seu aprimoramento.

A ideia de máquinas a fônomas não é recente. Já na Grécia Antiga, filósofos e inventores imaginavam seres artificiais dotados de movimento próprio — os chamados "automatons". Um dos primeiros registros, de 400 a.C., descreve um pombo mecânico criado por um amigo de Platão. Séculos depois, Leonardo da Vinci projetou um autômato por volta de 1495. Contu-do, foi apenas no século XX que a lA começou a se consolidar como campo científico.

Em 1943, Warren McCulloch e Walter Pitts propuseram o modelo de neurônios artificiais, uma das bases teóricas da área.

Poucos anos depois, em 1950, Alan Turing lançou o artigo "Computing Machinery and Intelligence", no qual sugeriu o famoso Teste de Turing, destinado a avaliar se uma máquina poderia pensar.

Considerado o pai da computação, Alan Turing foi retratado no filme "O jogo da Imitação", em que o matemático e sua equipe decifram o sistema de criptografia dos nazistas.

Em 1956, durante a Conferência de Dartmouth, John McCarthy cunhou o termo "inteligência artifi-cial", marcando o nascimento oficial da disciplina.

O funcionamento da lA é extremamente complexo e se baseia em três pilares: dados, algoritmos e aprendizado. O sistema coleta enormes quantidades de informações, identifica padrões e, por meio de técnicas como o machine learning (aprendizado de máquina) e o deep learning (pensamento profundo) ajusta suas respostas de forma continua. Isso permite que tecnologias de reconhecimento de imagem, voz e linguagem natural sejam cada vez mais precisas e aplicáveis em diferentes áreas.

BRUNO MARIANO SCHMIDT

Cirurgião do Aparelho Digestivo RQE 14529

Endoscopista RQE 15772

Na medicina, a lA tem desempenhado um papel revolucionário. Algoritmos analisam tomografias e ressonâncias para detectar doença, interpretam eletrocardiogramas em busca de arritmias e monitoram sinais vitais em tempo real.

Nas minhas áreas de atuação - cirurgia e endoscopia digestiva - a lA auxilia a detecção de lesões malignas e pré-cancero-sas fazendo uma varredura dessas lesões e as identificando em tempo real, mesmo as lesões muito pequenas. Na cirurgia robótica, a lA melhora a precisão dos movimentos do cirurgião, torna as estruturas anatômicas mais visíveis através da realidade aumentada e, recentemente, foi relatada a primeira cirurgia experimental realizada de forma autônoma por um robo

Os benefícios são evidentes: diagnósticos mais precisos, tratamentos personalizados e redução de custos operacionais. No entanto, os desafios éticos e de segurança merecem consideração, especialmente em questões relacionadas a privacidade de dados, regulamentação e risco de dependência tecnológica.

A lA deve ser vista como um suporte ao profissional de saúde — não

como um substituto. Visto que a lA também comete erros, tanto no processamento dos dados e formulação de respostas - as chamadas "alucinações em que a lA fornece informações absurdas e fora de contexto, como sua tendência a quase sempre concordar com a opinião do operador humano.

Um episódio recente ilustra esses riscos. Nos Estados Unidos, um homem de 60 anos desenvolveu uma intoxicação grave, o bromismo, após seguir orientações dietéticas fornecidas pelo ChatGPT. Ele substituiu o sal de cozinha por brometo durante três meses, o que provocou alucinações e paranoia. Após internação e tratamento, recuperou-se, e o caso foi relatado no Annals of Internal Medicine. O episódio reforça a importância da supervisão humana e do uso responsável das ferramentas de lA, especialmente quando aplicadas à saúde.

E se você me perguntar:

A IA vai substituir o médico algum dia?

Ainda não sabemos "se" ou "quando". Citando o renomado cirurgião Dr. JJ Camargo em uma palestra no TED Talks: "Não sei se os médicos serão substituídos por robôs algum dia. Caso isso ocorra, os primeiros serão os que se comportam como robôs".

As pessoas são seres sociais, precisam de acolhimento, compreensão e empatia, algo que nunca poderá ser fornecido por nenhuma máquina.